da arte de escrever zine ou
do que serve um poeta na guerra?
do que serve um poeta na guerra?
“A mentira não põe em jogo a intra-estrutura da consciência presente”.
Jean-Paul Sartre
Jean-Paul Sartre
É na dialética dos textos e no carisma da expressão da fábula ao realismo que investigo “Coisas que se Contam # 1” de Márcio Araújo e “Só meu Gato me Entende # 12” de Felipe Teixeira. Meio de comunicação dos dois? Fanatic magazine, “edição de fã” com publicação despretensiosa, popularmente conhecida por zine ou fanzine. Em “Coisas que se Contam” o leitor de zine irá se deparar com o conto “Mandarim Dourado”, um surrealismo, um mito criado pela mente do personagem “Seu Alzir” quando garoto. O “Mandarim Dourado” de Márcio Araújo é desprendido, pois é a emoção-ação = inquietação da personagem num universo povoado de vida no símbolo do peixe onde se desenrola a estória que, absurdamente, trato por epopéia reduzida ao conto – síntese – referindo-me a poética e imagética da linguagem até o desfechar do livro, opa! - Zine. A infância do personagem “Alzir” é uma farra de leitura, dado a criatividade do causo do peixe fabuloso tão cobiçado.
“Lá vem ele. – gritavam – o caçador do Mandarim Dourado. Isso era falado de longe (...). Seu Alzir, sim por que ele agora já era homem. Tinha barba na cara e filho no currículo (...).”
É na fantasia do personagem “Alzir” que o peixe toma certas decisões, transcendência e experiência, depois de anos adquire atitudes e laços com gerações passadas o que piora a “psicose” do personagem pescador - “Seu Alzir”. Pois é na subjetividade do personagem “Alzir” que o ser–peixe, “Mandarim Dourado”, pré-existe, e se existe é pela Má-fé, a mentira, a ficção. Compreender a ficção seria compreender o mentiroso que no escritor existe. Nada melhor do que uma mentira bem contada. Assim vou tentando compreender o “Mandarim Dourado” no fenômeno da Má-fé. “(...) Achava que aquele peixe não era mais aquele de sua infância e sim de outra geração(...). Imaginava gerações inteiras de peixes que teria se comprometido com o laço de suas tradições de lhe deixar louco(...)”. Essa é a negação do personagem central para o olhar do EU leitor, a afirmação da existência para a negação, em que chamo de “fábula” ou ficção – mentira. Assim o autor fica consciente da mentira conduzindo o leitor para o caminho da “fábula”.
No sentido inverso, mas no caminho da ficção + mentira = a fuga, o leitor se deparará com o conto “Não se Morre de Saudade” de Felipe Teixeira, no fanzine “Só meu Gato me Entende # 12”. Pois enquanto um (Márcio Araújo) nos fala de ilusão, o outro (Felipe Teixeira) nos fala de dor. Não sou crítico, mas do que serve um poeta na guerra? Nada! No entanto, nos diz Drummond, “a poesia resiste à falsa ordem, que é a rigor, barbárie e caos.” O poeta nomeia a saudade, através da melancolia que o “infarta”. Seu ser abre caminhos e o mundo doa símbolos. O verbo está sempre armado. A palavra é sua arma de dor. Segundo Alfredo Bosi a modernidade pesa mais arduamente sobre o mitopoético que nos dias atuais é furtado pela realidade. E tem razão. Pois morrer de saudade, na primeira fase do romantismo, seria morrer de amor. A saudade é a causa de sua dor, implícita na mentirafuga fazendo com que o leitor some o que a personagem oculta na verdade que o incomoda. “(...) Procurou em suas listas antigas de telefones alguém por quem pudesse sentir saudade. Sem sucesso. Tentou bares, parques, cinemas, cafés, saraus, parada de ônibus, calçadas... em vão (...). Em época de sociedade consumista e embalada pelo capitalismo, a poesia tende a ser mais áspera. E o leitor desatento poderá não encontrar poesia em “Sentia como se seu coração fosse um motor em macha ré”. Há em “Não se Morre de Saudade” de Felipe Teixeira a potência de fuga, o espelho retrovisor da melancolia,a solidão, a psicologia quando a personagem não reconhece a verdade e o desejo de morte no bojo do conto ou o que ouso taxar de pleonasmopoético em “A dor doía”.
A arte de escrever zine se configura pela força de vontade que nos leva a driblar a falta de editora. Não vivemos em um mundo fechado. Estamos vivos e debatendo, ouviram? A única distribuidora e mídia encontram-se na internet e no nosso velho correio, por onde recebi o Fanatic magazine e o desafio do colega poeta e internauta Márcio Araújo.
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